sexta-feira, 1 de junho de 2012

dos últimos quatro anos.

No começo, era um grito de súplica. Eram as palavras de uma alma atormentada, os pensamentos assombrados de um rapaz sem coragem, a covardia de encarar o que é, o que nasceu para ser. O sob o boné., que nasceu com um tenebroso nome em inglês e com perfil de diário de um moleque confuso, foi acusado de ser uma forma de aparecer, uma demonstração de carência simplória, quando todos os amigos estavam namorando e dando seguimento em suas vidas. Da estagnação causada pelo medo, surgiram as palavras desordenadas, em letras minúsculas, sempre, representando a miudeza daquela alma perante o mundo. Dos quartos escuros cujas sombras projetavam os reflexos dos seus devaneios, da tristeza, companheira constante, amiga fiel, fez-se, pouco a pouco, os posts-confissões ignorados por muito tempo.

um pug de presente pelo aniversário do blog: aceitamos.


Até que os gritos foram ouvidos por alguém e, em conversas de dias de inverno, o peso da encenação forçada, do não-ser imposto, começava a desvanecer e tornar-se passado. Não se tratava só de sexualidade, nunca foi tão simples assim. Mas de tudo que ela impedia, de tudo que o faz-de-conta em tempo integral me privava, da vida medíocre e sem sentimento, sem verdade, que não conseguiria me livrar.

Das amarras soltas, experimentei, finalmente, a liberdade. Estava livre das máscaras, do medo, das fugas pela tangente, do sorriso embaraçado. Era, pela primeira vez, Raphael Cardoso - embora não deixe tal condição me definir, apenas aceite-a como parte intrínseca de mim. E, com as velas do barquinho da minha vida abertas à ventura, vieram as primeiras fugas enquanto Friburgo dormia, as crônicas de corações partidos e os adeuses em rodoviárias. Vieram as pinceladas de uma vida que se iniciava, não que toda uma vida já não tivesse sido vivida no fantástico mundo do rapha, mas dessa vez era diferente. Era um renascer. Iniciado aqui, neste blog.

Eu costumo ver o sob o boné. como um álbum de fotografias de tudo que acontecera na minha vida nos últimos quatro anos. Não só das desilusões amorosas, das crises existenciais e depressivas, mas das experiências na íntegra, de todos os fatos que me transformaram na pessoa que sou hoje. É bem verdade que não sou mais o menino inseguro e perdido que está no extremo oposto dessa linha do tempo, questionando o vácuo entre a vida que tinha e a vida que teria. E se puder mandar uma mensagem pra ele, fazer reverberar nos limites do tempo espaço e fazer chegar aos idos de 2008, quero apenas que ele saiba que está tudo bem aqui e que estamos (e vamos ficar) muito bem.

Hoje em dia, considero este blog como minha casa na rede, o lugar onde me sinto bem e onde sou eu, por completo. Os textos perderam o cárater de confissões, ganharam literalidade, tornaram-se contos que ilustram esse novo dia-a-dia, sem aperto no peito, sem peso do mundo nas costas. Dos maiores orgulhos que ele me deu, vem a presença de um dos seus textos numa coletânea de contos - sim, o sob o boné. foi parar em papel impresso. Dos maiores alívios que ele me deu, vem a certeza do crescimento e da aceitação (e coragem) pra ser que eu sou. Feliz aniversário, portanto, meu blog querido.