sábado, 28 de novembro de 2009

música e divagações: "Sou", por Marcelo Camelo.

Essa é a segunda edição do "Musica e Divagações", uma coluna do meu humilde bloguinho que eu gostei muito de fazer pela espontaneidade com que as palavras saem com um trilha-sonora de fundo. Mas fiquei realmente em dúvida sobre qual álbum escolher desta vez, até perceber que eu PRECISAVA escrever sobre o primeiro álbum solo do Marcelo Camelo. O porquê dessa escolha? Bem, vamos apertar o Play e aí a gente conversa...



Faixa 1: Téo e a Gaivota

"todo amor encontra sempre a solidão."

Okay, eu sei que falar d
este cd já virou assunto obsoleto, velho e ultrapassado, afinal, esse álbum é de meados do ano passado. Mas houve uma injustiça tamanha do recebimento de algumas pessoas para com essa obra. Os fãs alvoroçados do Los Hermanos não conseguiram entender muito bem a proposta do Camelo para sua carreira a solo e o que eu li de besteira por aí sobre esse álbum não está no gibi.

Confesso que meu primeiro momento diante do "Sou" também não foi lá uma experiência única e inesquecível. Acabei fazendo um desses downloads capengas que vazam antes mesmo do lançamento e o set list veio fora de ordem, trazendo "Copacapana" como faixa 1. Pensei no mesmo momento: "Puta que pariu, Camelo! O Amarante já tá fazendo isso no Orquestra!" ¬¬'
Mas não demorou para o encantamento começar a tomar conta de mim, pouco a pouco, devagar. As audições vieram lentamente, às vezes batia aquela preguicinha - porque o "Sou" não é nem de longe um álbum de fácil audição. E foi bem de repente que me peguei totalmente fascinado por cada um dos 55 minutos que compõem esse álbum.


Faixa 2: Tudo Passa
"os ais e os hãos de ser e todos os casais também."

Mas o que causou toda essa proximidade a este álbum particularmente? Okay, eu posso estar sendo um tantinho hiperbólico nessa minha próxima fala, mas arriscarei mesmo assim, com a certeza de que posso me arrepender de ter dito isso algum dia:

"Sou" é o disco da minha vida.

Uow... vejam que eu realmente acredito nisso.. Letras grandes, em negritos.. Quem sabe eu não faça uma tatuagem, rs. Just kidding.
A verdade é que são poucas as obras de artes em que eu consigo me encaixar plenamente, me ver retratado, me sentir inserido nela. Acho que o nome disso é catarse, não é Simone? (minha maravilhosa professora de Teoria da Literatura que me transmitiu em 1 ano mais conhecimento do que jamais consegui juntar nos outros 22 anos da minha vida)


Faixa 3: Passeando

"estamos sós."

Nossa, essa é nostálgica *_*

Ouça esse dedilhado... sinta a simplicidade...

Caceta! rs
.

Mas então... voltando ao assunto...
Catarse é um sentimento que lhe invade ao peito quando você está fruindo de uma obra de arte. Você pode sofrer Catarse de dois modos: sensibilizando-se dos sentimentos e dores retratados na arte pelo fato de nunca ter acontecido contigo - aquele sentimentozinho de alívio ao fim de um filme onde o casal apaixonado termina separado, por exemplo, e você pode dar graças a Zeus porque o seu amado está ainda do seu lado.


Faixa 4: Doce Solidão
"foge que eu te encontro que eu já tenho asas."

(...)
E há, em contraponto, a Catarse onde o que acontece na obra de arte parece, aos seus olhos, uma autobiografia. Aquele filme ou música que parece ter sido escrito para você, sabe? É esse tipo de catarse que eu sofro ao ouvir o "Sou". Nunca antes tinha visto meus sentimentos tão bem resumidos em apenas um discozinho brilhante. (E esse assovio de Doce Solidão? Nunca mais saiu da minha cabeça desde a primeira vez que ouvi essa faixa.)
E sim, "Sou" é um disco que fala em sua maior parte de solidão. Acho que a palavra está presente em quase todas as faixas, quando não explicitamente, escondida em algum sentido mais profundo.



Faixa 5: Janta (com Mallu Magalhães)
"caminho em frente pra sentir saudade"

Até mesmo esta faixa, que tem por essência um relacionamento, fala da solidão que existe na vida a dois. Eu amo essa faixa de paixão, mesmo com os miados da Mallu, rs. E é uma faixa que sempre serve de trilha sonora quando estou envolvido com alguém, porque em todo "relacionamento" - que saco ter que usar estas aspas, mas ainda não posso usar a palavra relaciomento no seu sentido conotativo - que me envolvo, a solidão, a tristeza e a saudade ficam espreitando à porta, me deixando inseguro, sem perspectiva... assim, tais versos simbolizam o meu medo do filme sempre se repetir:
"eu quis te conhecer, mas chega de insistir caberá ao nosso amor o que há de vir." E, infelizmente, toda vez que usei esses versos para lançar à sorte meu envolvimento com alguém, o resultado foi solidão.



Faixa 6: Mais Tarde
"acho que não vai dar, tô cansado demais."

Ah, solidão.
Ultimamente eu tenho sido muito questionado sobre minha solidão. Sobre meus hábitos taciturnos, minhas fotos tristes, meu gosto por música e filmes depressivos... E minha resposta é sempre a mesma: eu não posso fugir do que sou. Quando tiro uma foto que fica triste, nostálgica, depressiva, não é porque quero que ela saia assim. Não falo: "Peraí, Diego, espera eu ficar bem triste.. quando vir meus olhos marejar, você tira a foto, okay?" Não é assim que as coisas acontecem.

O problema é que, na verdade, quem me conhece, sabe que eu sou a pessoa que mais ri nesse mundo. Adoro dar risada, rio até da coisa mais sem graça do mundo e tenho sempre pronta uma piadinha sem vergonha para fazer. E não faço isso para parecer feliz perante a sociedade, nada disso. Tampouco uso isso para dissimular com meus amigos o que realmente sinto. Eu não tenho motivos para fazer algo do gênero. Tassiane esses dias me disse que eu preciso parar de colocar fotos depressivas no orkut, que tenho que parar de mostrar para as pessoas que sou assim. E minha resposta para ela foi simples e inexorável:


Faixa 7: Menina Bordada
"moça por favor, cuida bem de mim."

(...)

EU NÃO POSSO FUGIR DO QUE SOU!

E se minhas fotos saem da forma que saem, talvez estejam refletindo o que está na minha alma. E que mal pode haver em algo assim? Em você poder expressar o que você realmente é, sem máscaras, sem maquiagem... você, cru, de verdade. Eu só vejo beleza em uma coisa dessas.


Portanto, concluindo esse papo doido, passou da hora de refletirmos sobre esse paradigma de que a tristeza é má. Okay? Podemos ser mais sensatos que isso. Pra mim, toda boa obra de arte tem uma boa dose de tristeza e minha essência também é feita disso. É essa tristeza íntima e benéfica que me faz ter a visão de mundo peculiar que tenho.
Obviamente que às vezes essa essência me faz mal e me deixa triste do jeito ruim da palavra. Mas tudo na vida tem esse lado pesado e obscuro.. e chega de filosofia de boteco que eu já estou falando bobagem, rs.


Faixa 8: Liberdade (com Dominguinhos)

"é deus, parece que vai ser nós dois até o final."

Bom, como falei quando fiz o "Música e Divagações do Kings", eu não tenho nenhum conhecimento teórico sobre música. O meu gosto vai muito por alguma coisa íntima, uma melodia que me pega desprevinido, um som que me faz sonhar e viajar, um verso que significa muito mais que palavras em um ordem sintática... E eu gosto muito dessa relação que tenho com a música, uma relação que parece uma amizade. Às vezes você tem amigos que não são lá grandes gênios contemporâneos, mas você ama aquela pessoa do jeitinho que ela é... E a música pra mim pode ser a mais simples possível, contanto que desperte em mim algum sentimento bom.



Faixa 9: Saudade (instrumental, por Clara Sverner)


(...) Digo isso tudo porque este álbum do Camelo tem seus momentos orquestrais e tem momentos da pura simplicidade de um violão dedilhado. Se "Téo e Gaivota" tem sua beleza complexa ressaltada pela particapação do Hurtmold - banda de música instrumental que acompanhou o Camelo na gravação do álbum e na turnê -, "Saudade" à voz e violão não perde um mísero ponto por ser mais simples e delicada.
Essa é apenas uma agulhadinha em gente que acha que música é aquela que faz quebrar os dedos pela complexidade das notas.
Há música na simplicidade. E bela música, por sinal.


Faixa 10: Santa Chuva

"meu coração já se cansou de falsidade."

Essa aí ele escreveu, deu de presente para a Maria Rita e depois tomou de volta, rs. Eu gosto muito mais da versão dele. E é engraçado que na época do Los Hermanos eu sempre fui mais fã das canções do Amarante. As do ruivo sempre eram as consideradas favoritas por mim, até que, ao ouvir o "Sou", fui levado a uma reflexão profunda sobre o lirismo de Camelo. Não que desgostei das do Amarante, mas passei a dar mais importância a canções que antes me passam meio despercebidas.




Faixa 11: Copacabana
"todo destino padece aqui."

Aaaah, olha a dita cuja aí! rs.
Okay, estranhei ela de começo, mas agora eu adoro. Mesmo odiando carnaval e as coisas que remetem a ele... Mas essa música tem um ar nostálgico da época que o carnaval parecia ser uma coisa bacana... Gostaria de ter presenciado essa época do carnaval.


Faixa 12: Vida Doce
"assim eu caminho no tempo que eu bem entender."

Puta que Paréu! Eu sou completamente apaixonado por esta música.
Adoro o ritmo de carimbó, adoro a letra, adoro o jeito arrasto do Marcelo cantar... Essa é, a propósito, o toque do meu celular, rs.. Sendo que ando precisando trocar isso, porque me traz más recordações >.< Bem, vou começar as considerações finais, porque com certeza elas renderão as próximas 2 faixas. Meu amor por esse cd cresce a cada dia mais, a cada escutada, a cada análise das nuances das letras, a cada descoberta de um novo som, uma sutileza no dedilhado ou um minúcia no tom de voz do Camelo.


Faixa 13: Saudade

"amor, eu vivo tão sozinho de saudade."

(...)
E esse amor é sim um amor triste, porque "Sou" é uma obra triste. Mas ela revela em suas entrelinhas uma esperança de uma Vida mais Doce, de um encontro com a Liberdade, de acontecimentos felizes guadados para Mais Tarde. E precisamos aprender a ver sutilezas escondidas na tristeza e na solidão. Porque o crescimento e amadurecimento sentimental estão escondidos nos momentos em que sofremos. Não há crescimento na alegria, não há reflexão num momento feliz. Pelo menos assim eu acho.


Faixa 14: Passeando (instrumental, por Clara Sverner)


Obrigado, Camelo, por ter colocado toda a sua alma em cada nota desse álbum e ter compartilhado com a gente a transparência de sua sensibilidade. E fica assim: até segunda ordem, "Sou" é um retrato dos recônditos mais profundos da minha alma.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

sobre sonhos - e o autoconhecimento que eles provêm.

E quando seu coração acostumou-se com a tênue ausência e quando a dor voraz que sentira transformou-se num incômodo insignificante em suas noites insones, aquela longínqua tarde cinzenta de domingo foi envernizada com uma aura onírica que lhe trazia um pequeno sorriso de satisfação ao rosto. Um sonho doce, despretensioso, com um quê de sagrado e um gosto de eternidade. Tinha dias que sequer conseguia distinguir se ele realmente existira; o conceito de realidade se extinguia diante da perfeição indubitável daquele momento e lhe parecia um tanto mais plausível aceitar a condição de que ele fora um capricho de sua mente criativa.

Havia, entretanto, algumas fotografias que impunham friamente um inexorável tom de existência àquela tarde. Mesmo assim, de todas as fotos, ele só conseguia associar verossimilhança à qual estava sozinho, mãos afundadas no bolso e expressão de contentamento. Sozinho, somente ele, o mar calmo e o céu cinza. Não seria talvez uma mentira cômoda esse papo de que ninguém nasce para ficar sozinho? Uma convenção social para aqueles que não podiam encarar a realidade de que viveriam e morreriam sozinhos? Ele sempre fora, por excelência, um solitário. Entendia-se na individualidade de sua alma e descobrira que estar com outra pessoa não era nada senão um sonho. “Talvez a vida baseie-se nisso: na dor causada por esses filhos-da-puta e no nosso esforço sobre-humano de reconstruirmo-nos e colocarmo-nos de pé novamente”, ele pensava agora.

E quando tornou-se capaz de separar sobriamente o sofrimento que lhe fora causado deste sonho paradoxalmente efêmero e eterno, descobriu tanto de si mesmo que, por um breve momento, assombrou-se. Era agora nítido que não devia nunca diminuir-se pela escolha de outrem de não permanecer ao seu lado, afinal, talvez a magnitude de seu ser não podia ser compreendido pelo outro. E pensava nisso sem soberba ou pretensões que não lhe cabiam, mas com a verdadeira modéstia de quem compreende-se pela primeira vez e percebe que é maior do que sempre pensou ser possível ser. Não sentia-se mais incompleto diante da rejeição, pois tinha em si mesmo a completude de entender-se por fim. E gostava da forma como suas qualidades e defeitos, seus conhecimentos e suas ignorâncias fundiam-se no intuito de formar uma personalidade única, porém, ordinária; complexa e, ao mesmo tempo, simplista.

Mais do que tudo, aprendera que as pessoas que escolhem não fazer parte de sua vida não levavam nada dele, não sedimentavam o todo que ele compunha. Não era possível dividir sua essência, porque ele era muito mais que um conjunto de características idiossincráticas justapostas de qualquer forma. E que satisfação intumesceu-lhe a alma ao sentir-se pela primeira vez único, completo e digno da vida.

Ele podia estar longe de ser a beleza de um poema de Drummond, mas tampouco era a mediocridade de um romance de Paulo Coelho. Ele descobriu um equilíbrio entre a complexidade do seu ser e a simplicidade de encarar a vida através do seu ritmo natural. E, por enquanto, isso lhe bastava plenamente.