domingo, 15 de março de 2009

sobre rotina e cotidiano.

o tempo não é tão concreto quanto nós pensamos. essa concepção exata de que cada ano tem 365 dias e cada dia 24 horas pode soar confortável para nós, tão apegados a paradigmas e necessitados de algo firme abaixo de nossos pés. meus dias andam estranhamente curtos. as 24 horas que me são dadas para completar todas as minhas obrigações não me parecem ser suficientes nunca. o tempo para os amigos acabou; internet? putz, deve fazer um mês que não troco uma palavra com as minhas 2 bias; dezenas de leituras para a faculdade se acumulando, textos esperando para ser redigidos e o trabalho consumindo todas as minhas energias físicas... e se você achar esse texto deveras mal escrito, perdão, mas é o desgaste intelectual de uma tarde chuvosa de estudo.

meus dias agora começam às 7:20. eu não ligo de acordar cedo, sempre fui um apreciador das manhãs e de sua temperatura amena, mas o estridente berro do despertador é um incômodo com o qual ainda não me acostumei. dá tempo de um bom café quente, uns minutinhos de ócio no sofá da sala e de arrumar a mochila. ando esquecido: é folha que fica pra trás, uniforme da loja que fica na gaveta, até o boleto para pagar a faculdade esqueci no última dia que tinha para quitá-lo. ainda checando se tudo que preciso está no interior da mochila, às 7:50 começa uma das horas mais agradáveis do dia: uma caminhada até o serviço, com direito a sol entre as árvores e céu de um azul opaco nostálgico. eu sei que vivo falando de caminhadas aqui no blog, mas não sei se vocês conseguem entender que esses minutos costumam ser um encontro comigo mesmo, aquela hora em que faço um balanço, coloco a cabeça no lugar, vejo o que tá certo e o que tá errado. cada um tem seu próprio método de fazer esse balanço e esse é o meu. também vale salientar que essa caminhada faz MUITOOO bem para as minhas retinas num certo momento, mas é melhor me abster de demais comentários (rs).

às 8:30 começa o turno na casa do doce, emprego no qual completo um ano essa semana. em certos dias tudo corre uma maravilha, o serviço rende, a hora voa e eu não me aborreço. entretanto, na maioria dos dias o stress torna-se presente no serviço: é intriga entre funcionários, fofoca, parceiro de trabalho mal humorado, briga, suor, calor, estoque bagunçado, clientes
irritantes, pilhas e pilhas de mercadoria para serem arrumadas... deus, o cansaço físico e mental é inevitável durante as 8 horas que passo lá. infelizmente eu tenho sentido uma necessidade grande de procurar outra fonte de renda nesses últimos dias, mas enquanto der pra ir empurrando com a barriga, estou lá firme e forte cumprindo meu papel.

o horário de almoço tem 2 finalidades: os de segunda, quarta e sexta acontecem de meio-dia à 1:30 e são destinados ao estudo. não tenho tido outro tempo pra ler e a marmita tem dividido espaço com textos xerocados e marca-textos. nos dias de maior calor, dou uma escapadinha pro shopping pra filar um pouco do ar-condicionado enquanto estudo. já às terças e quintas meu almoço é junto com o do gu, de 10:30 ao meio-dia e aproveitamos pra dar uma volta, colocar a conversa em dia e passar um pouco de tempo junto, o que também se tornou difícil perante esses novos horários apertados.


às 5:50 é hora de trocar o uniforme multicolorido da casa do doce e seguir para a faculdade de filosofia santa dorotéia. não conte pra ninguém, mas
o tempo que passo cercado daquela áurea acadêmica tem se tornado as 5 melhores horas do dia. às vezes me sinto verdadeiramente ignorante diante da inteligência plena dos professores, às vezes me sinto estúpido por falar coisas irrelevantes ao assunto discutido, e outras vezes me sinto deveras contente com o crescimento intelectual que sei que vou adquirir nesses 4 anos quer estarei entre suas paredes. as primeiras amizades já começam a aparecer, já começo a tomar verdadeiro gosto por certas pessoas, as primeiras risadas começam a aparecer nos rostos e aquela trajetória de 4 anos que parecia assustadora outrora parece agora fácil e agradável. fácil no sentido social, que fique claro, porque nós, calouros do 1º período de Letras estamos apavorados com a iminência de provas e trabalhos. um temor mais do que normal pra nós que estamos experimentando pela primeira vez a pressão de ser aluno da melhor faculdade de Letras do estado.


um ônibus abarrotado me traz de volta para casa e às 10:30, quando chego, já sou apenas um bagaço do que era um ser humano de manhã. às vezes o cansaço é tanto que abdico de me alimentar pra tomar um banho e me jogar na convidativa cama. mas quando o estômago ronca, o microondas entra em ação enquanto fuxico rapidinho o que aconteceu na minha não mais ativa vida virtual. os scraps são respondidos com prazer, porque depois de um dia árduo é ótimo receber um carinho das pessoas que realmente me amam. mas a cama me espera, não dá pra dar mais a atenção que vocês merecem. me desculpem por isso, viu?

tento manter o hábito de leitura à cama, mas não consigo ir mais longe que 5 páginas - num dia bom. as pálpebras pesam e o negrume do sono afoga impiedosamente as palavras do livro. os sonhos não vêm, o sono é inquieto e às vezes, às 3 da manhã estou de olhos abertos mirando o teto do quarto. reflexos do cansaço acumulado e da expectativa da rotina que já está prestes a recomeçar.

esses dias eu fui infeliz ao tecer um comentário com o gu dizendo que essa era a época mais triste da minha vida. eu não estou triste exatamente, apenas me adaptando a essa nova vida corrida e cansativa. na verdade, o problema sempre vai cair na lacuna não-preenchida.
mas esse papo-chato-reprise-da-reprise fica pra um momento mais oportuno. daqui a pouquinho é hora de começar tudo de novo...

"todo dia eu só penso em poder parar
meio dia eu só penso em dizer não
depois penso na vida pra levar
e me calo com a boca de feijão"
- chico buarque, "cotidiano"

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