domingo, 8 de junho de 2008

o estrago que faz, a vida é curta pra ver.

eu acho que deve ser um medo universal, algo que cada pessoa deve sentir lá no fundo do seu ser. e é realmente uma das coisas que mais me assombram: o medo de estar deixando a vida passar displicentemente, de modo que, quando eu olhar pra trás daqui há alguns anos, verei que minha existência nesse planetinha azul foi a mais medíocre possível. eu tenho 22 anos atualmente e nada do que vivi foi coberto daquela intensidade arrebatadora de tirar o fôlego. nunca vivi uma paixão cálida ou senti minha alma completa, como se tivesse achado a pessoa com quem gostaria de passar o resto da minha vida; sequer pude ouvir uma música romântica e nomeá-la egoistamente trilha sonora do momento que estava vivendo. nunca fui pego de súbito por aquele toque no lugar certo, que arrepia os pêlos do braço, que faz seu estômago revirar-se num espasmo de ansiedade incontrolável. nunca tive meus olhares intensos e significantes retribuídos, meus sorrisos tolos notados ou meus gestos compreendidos. nunca houve reciprocidade de sentimentos, tudo nunca passou de fantasiosas obsessões por desconhecidos. nunca houve amor. em nenhuma de suas formas.

e não é só a falta de relacionamentos que me deixam temeroso sobre a falta de aproveitamento do meu tempo roubando o oxigênio terrestre: não tive chances de conhecer o mundo ainda - sequer saí do meu próprio estado. não conheci todas as pessoas que eu gostaria, pessoas realmente interessantes, que acrescentam brilho à sua existência e fazem diferença no seu dia-a-dia. não li todos todos os livros, não vi todos os filmes, não ouvi todas as músicas, não conheci todas as culturas... goddamnit, uma vida só é pouco tempo pra isso tudo ou sou eu que estou deixando essa porra toda escapar pelos meus dedos?

nós sempre achamos que teremos muito tempo pela frente pra viver o que não vivemos hoje por preguiça. eu confesso que sou um desses que deixa tudo pra amanhã, porque hoje eu tenho preguiça até de respirar. não tenho muito saco pra planejamentos, pra correr atrás, pra fazer acontecer... sento no sofá e espero mesmo e, se não vier, que se dane. mas de um tempo pra cá, eu caí na ardilosa armadilha que é passar a pensar no futuro. e pronto, depois que você faz isso pela primeira vez, há uma reação em cadeia que te deixa apavorado pela falta de perspectiva da sua vida. é nesse estágio que me encontro agora.

a minha capacidade intelectual é constantemente superestimada. ivando (meu ex-patrão e grande amigo) deposita sua confiança em mim, oferecendo ajuda monetária para que eu comece uma faculdade. em conversas com a tassi, ela quase me agride fisicamente por eu não está fazendo nada de útil com essa tal "capacidade" que tenho. não estou tentando também me passar por um ignorante acéfalo, veja bem. somente acho que meus conhecimentos reais são supérfluos. posso decorar o nome dos 29 integrantes do i'm from barcelona se eu quiser, mas não consigo me interessar por política, economia ou história ou entender uma equação de matemática. posso aprender e decorar as letras de toda a discografia dos beatles, mas não sei o nome de todas as capitais dos estados brasileiros. ou seja, meu cérebro absorve somente o que ele quer. uma maldita esponja com vontade própria 'sapouha (rs).

ele - meu cérebro, digo - poderia ter ido muito além dos 126 pontos de q.i. que possui, eu sei disso. eu poderia estar agora numa faculdade federal facilmente, terminando meu curso de inglês e me preparando pra aturar alunos tralhas. o que faltou? investimento na capacidade do rapha aqui. é um pouco escroto falar esse tipo de coisa, mas meus pais nunca pensaram a longo prazo no meu futuro. porque, afinal, o primeiro pensamento sobre isso deveria ter sido deles. meu pai, um pouco antes de eu nascer e quando eu era bem pequeno, tinha um ótimo emprego, tanto que o único dos seus 4 filhos a nunca ter estudado numa escola particular fui eu. a coisa depois ficou um pouco mais apertada, mas creio que se tivesse havido planejamento, eu poderia ter estudado numa boa escola que teria explorado de verdade minha capacidade. porque as escolas públicas simplesmente não fizeram isso. e não quero desmerecer a educação do país nem entrar no mérito dessa questão, mas eu passei meus 13 anos escolares sem precisar pegar um livro para estudar para uma prova. sempre me contentei em me manter na linha azul dos aprovados e nunca em realmente absorver o conteúdo tão importante para o meu crescimento pessoal. hoje em dia me arrependo disso e queria muito poder voltar no tempo para aniquilar a displicência com que passei meus tempos escolares. um desejo sem fundamento, entretanto.

e agora me pego na perspectiva de nunca poder ser um profissional devidamente qualificado, já que meus pais não tem condição de manter uma faculdade particular para mim. se outrora não conseguia decidir por um curso, coloquei na cabeça obrigatoriamente que havia decidido fazer o curso de letras em inglês, simplesmente pelo fato do curso ser o mais barato e mais acessível, mas mesmo assim tudo ainda me parece muito distante. resolvi juntar grana, uma caixinha pra começar a faculdade ano que vem sem falta, mas o dinheiro some com gastos bobos e supérfluos. e mesmo se eu poupasse essa grana, como manter uma faculdade com um salário mínimo e ainda suprir minhas necessidades básicas - ou não tão básicas assim?

talvez eu esteja acomodado, sem perspectiva, talvez o futuro seja realmente complicado ou talvez eu esteja fardado há uma existência medíocre e incompleta. o que sei por enquanto é que meu futuro bate à porta todos os dias, querendo entrar. e eu realmente tenho um medo fdp dele, mas, nas palavras de amarante "o vento vai dizer lento o que virá..."

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