quarta-feira, 18 de junho de 2008

moz'd understand me.

ontem à noite, enquanto o ônibus que me leva diariamente para casa cruzava vagarosamente a avenida, deslizando lentamente para cumprir seu itinerário o qual estava um tanto adiantado, meu Ipod no shuffle me pegou de surpresa com um canção do morrissey chamada "i have forgiven jesus". meu cérebro rapidamente começou a se prender em cada palavra da música - coisa que eu não faço muito, confesso; tenho o péssimo hábito de só me preocupar com a melodia - e, rompendo barreiras lingüísticas (meu inglês é o básico e eu sou bem ruim para ouvir a língua inglesa), fui levado de repente para verdadeiros devaneios sobre uma coisa que eu nunca tinha parado pra pensar: minhas crenças. ou a falta delas.

eu fui criado, batizado e fiz primeira comunhão na igreja católica. é bem verdade que sempre foi uma coisa forçada pelos meus pais. para mim, catecismo não era nada além de um tempo perdido no meio do meu sábado, onde eu podia estar brincando e fazendo peraltices por aí. os sermões do padre nas missas dominicais me mergulhavam num tédio sem precedentes e minha mente se dispersava até mesmo com os mosaicos feitos a guache da vidraça, os quais eu já havia estudado e analisado bilhares de vezes. contudo, 2 fatos cruciais me levaram ao afastamento por completo da igreja católica - e de qualquer outra.

o primeiro deles aconteceu quando eu tinha uns 12 anos e acordei cedo para ir à missa dominical com meus pais na igreja matriz. é bem verdade que meu interesse era no que acontecia após a missa: meu pai comprava vários envelopes de figurinhas para mim (rs). mas durante essa celebração em questão, o padre me convidou educadamente a me retirar da igreja por causa do boné. beleza, eu entendo que ele não sabia o motivo real do uso do boné como os padres da igreja do meu bairro sempre souberam. entretanto, mesmo com pouca idade, aquilo me soou como um paradoxo em relação à doutrina que a igreja prega. não entrava na minha cabeça como podia haver "exclusão" do lar de deus por não cumprir uma "regra". se o uso de chapéu é realmente desrespeitoso em lugares como a igreja, também é desrespeitoso com uma criança expulsá-la de um recinto dessa forma.

essa foi minha separação da parte física da igreja; desde então nunca mais pus os pés na morada do senhor (juro que não estou sendo irônico, rs). a emancipação real aconteceu quando comecei a ter minhas próprias opiniões e ideologias. desde então tornou impossível seguir uma doutrina que condena uma característica biológica de determinado grupo de pessoas. me soa muito estúpido a igreja condenar o homossexualismo se, afinal de contas, seria o próprio deus quem teria criado tal condição a determinada parcela de suas "obras-primas". afora isso, os conceitos de céu, inferno, purgatório, pessoas que viviam 700 anos, arcas que cabem dois animais de cada espécie... de boa, tudo isso sempre foi demais para minha cabeça.

então, em certo momento da minha vida eu deixei de ser um pseudo-cristão para me tornar um... ateu?! pois é, e quando você passa a duvidar que o moço lá em cima fez tudo isso aqui em 7 dias, lhe resta crer que houve a explosão de um ovo cósmico e que os macacos aprenderam a andar eretos e a fazer bandos de gente estúpida chamados "sociedade". eu tentei me convencer disso tudo muitas vezes. tentei olhar pelo lado da ciência e ver respostas pra todas aquelas coisas que nossa mente fica ávida por explicações lógicas. mas nunca me convenci de verdade, mesmo que a quantidade de pêlos em meu corpo seja uma prova nítida de que eu tenho um primo chimpanzé (rs).

portanto, se eu não acredito em deus, nos céus, no inferno, na ciência ou que paul mccartney morreu e foi substituído por um sócia, em que diabos eu acredito?

quando eu estou fazendo minhas caminhadas outonais e tendo meu melhor momento de introspecção, eu me pego com meus sentidos amplamente apurados. eu sinto o oxigênio bailando em minhas vias nasais em busca do aconchego dos meus pulmões; meus olhos contemplam maravilhados a silhueta das montanhas que cercam minha cidade e a beleza simplória de uma árvore à beira do rio transforma-se numa moldura de beleza ímpar; até mesmo o trajeto das formigas carregando folhas mais pesadas que elas chama a minha atenção e me pego com um pensamento certo: a perfeição com que as coisas no nosso planeta se encaixam só pode ter sido constituída por uma força maior. tem que haver uma "coisa" acima de coincidências ou ordens naturais que planejou tudo do jeito exato e nos deu de presente sua obra-prima (para que a gente rabisque com canetas esferográficas, fazendo bigodinhos e óculos de aros-finos). e, de súbito, me pego novamente acreditando em deus. não o homem fanfarrão sentado lá no alto, olhando tudo com seu ar imponente e anotando em sua pranchetinha quem vai pro céu e quem vai curtir umas festas ardentes na casa do sete-pele (rs). acredito em deus como uma força maior que as pessoas sentiram necessidade de nomear. e essa força não vai mandar seu primogênito para cá tocando trombetas e descendo do céu numa nuvem rosa, goddamnit! (rs).

das doutrinas religiosas que temos hoje em dia, uma que me cai bem e razoavelmente aceitável é o espiritismo. na época que eu trabalhava na locadora, ivando, tassi e eu costumávamos ter pequenas reuniões onde o primeiro nos passava um pouco dos seus conhecimentos naquilo que ele acredita. e eu realmente aceito bem melhor a idéia de que nossa alma vai pagar pelos nossos erros do que em deus e sua pranchetinha. e acho que, quando for buscar uma doutrina religiosa para minha vida, será o espiritismo. mas, no exato momento, eu estou ocupado demais tentando ser eu. questão de prioridade.

por enquanto, fiquemos com morrissey nesse ode ao momento atual da minha vida:


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