segunda-feira, 2 de junho de 2008

i must belong somewhere*


ultimamente, eu tenho gastado minhas manhãs de outono em caminhadas sob o sol opaco e morno, em trajetórias rotineiras e desinteressantes. nada a ver com o culto ao corpo perfeito imposto pela sociedade atual (afinal, ninguém usa essa droga mesmo, então pra que cuidar dele? rs). mas fazer essas caminhadas foi o jeito que eu encontrei de ficar mais próximo de mim mesmo.

com os fones no ouvido e o iPod sempre no shuffle, parto em uma caminhada de encontro com os meus maiores fantasmas, que resolveram me assombrar como nunca nos últimos meses. enquanto belle and sebastian, damien rice, kings of convenience e beirut tocam desordenadamente suas melodias, eu reflito e procuro respostas pras questões que andam perturbando meu sono. e, sobretudo, essas caminhadas me deixam mais próximo de algo que eu realmente amo: minha cidade.

o meu amor por nova friburgo - cidade serrana do estado do rio de janeiro - vai muito além de seus pontos turísticos, seus restaurantes pomposos ou seu ar de cidade européia. o que eu amo em friburgo é, por exemplo, depois de descer pra capital e ficar lá num dia quente e abafado, ao pegar os caminhos arborizados em zigue-zague da serra, você sente a mudança no ar, como se morássemos numa cidade tão egoísta que não compartilha seu ar puro com mais nenhuma cidade. um ar só nosso, é isso que temos. e eu adoro as cores da cidade, o jeito como o sol a ilumina de forma branda e serena, o jeito que o verde das matas reflete vivamente essa claridade quase melancólica. gosto até mesmo da iluminação artificial da cidade, amarelada e nostálgica, como se fôssemos ainda uma viela no alto das montanhas. e gosto, acima de tudo, de ver a cidade despertar. de subir uma de suas muitas montanhas e ver o sol a tocando carinhosamente com seus primeiros raios, evaporando aos poucos a névoa que a cobria. e eis que surge em seu brilho matinal o lugar que eu mais amo no mundo.

mas o mundo é grande demais pra gente nascer exatamente no lugar em que devemos passar o resto de nossas vidas. não que isso seja uma regra, mas funciona quando você começa a se sentir "um estranho no paraíso" (rs). e mesmo que eu ame nova friburgo e mesmo sabendo que ela sempre será a minha cidade, eu reconheço, nas palavras da bia "que ela se tornou pequena demais para mim". nada a ver com a geografia do lugar, mas quem mora aqui sabe que friburgo é um ovo. e pra tudo que eu eu quero viver, sentir e experimentar, friburgo torna-se inviavél de várias formas.

e eis que surge uma das principais questões da minha fase atual: pra onde eu devo ir, mew?
bom, a primeira opção foi dada pela minha própria mãe no ano passado: íamos todos (eu, ela e meu pai) mudar pra rio das ostras, uma cidade litorânea aqui próxima. não que fosse adiantar muita coisa, porque r.o. é um ovo ainda menor que friburgo (eles são um ovo de codorna, nós de galinha rs). mas novos ares seriam muito bem vindos e talvez eu conseguisse me adaptar lá aos poucos. saí do emprego, dei tchau pros amigos e um ano inteiro se passou sem que minha mãe tomasse atitude nenhuma de mudar. pois é, descartemos essa opção.

também temos a bia, que oferece sua casa prontamente para me receber a hora que eu quiser.
bom, eu sei que ela diz isso da boca pra fora, porque ela nunca me "adotaria" assim... ela não é louca a esse ponto (rs). a bia (que será tratata com mais propriedade nos próximos posts) mora em são paulo e acha que um pouco do ar da maior metrópole do brasil é tudo que eu preciso. será? acho que eu me sentiria completamente perdido numa cidade daquelas proporções. entretanto, uma cidade onde você é um anônimimo, onde as pessoas passam por você na rua e não te reconhecem e não te julgam seria um ótimo modo de lidar com tudo isso - pelo menos no começo. só há duas coisas que poderiam acontecer: ou são paulo me devoraria e eu voltaria correndo pra minha pequena suíça brasileira ou simplesmente eu me tornaria um cidadão honorário paulistano. pois é...

bom, enquanto isso, mesmo me sentindo um forasteiro na cidade que sempre vivi, comecei a juntar grana pra iniciar uma faculdade no ano que vem. afinal, já foram anos demais de relaxamento e comodidade. mas se a qualquer momento eu pegar essa grana e usá-la como capital inicial pra morar em são paulo, ninguém vai poder me culpar. às vezes, correr riscos é tão importante quanto um diploma na parede...
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* a americanização do blog é ligada diretamente à minha personalidade, à música que ouço, aos filmes que assisto e à presença da língua inglesa na minha vida. peço-lhes desculpa por isso ;)

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