sábado, 14 de junho de 2008

biografia autorizada - parte 1

se o futuro (ou a falta de) foi tema de um post inteiro há alguns dias atrás, mais do que justo fazer um para falar do passado, da forma mais ampla que me for permitido pela minha memória e lembranças. não há grandes proezas, grandes aventuras ou grandes mergulhos no mar de possibilidades da vida. na verdade foi um existência até agora esculpida na simplicidade, mas não menos importante por isso.

eu nasci no dia 18 de dezembro de 1985, por volta das 3 da matina. sou o quarto filho e o caçula, portanto, toda a bajulação recebida nos anos seguintes foi devidamente merecida. meu pai costumava cantar a seguinte musiquinha quando eu era pequeno: "raphael é um porquinho / um porquinho bonitinho". e o tom da sua voz ao fazê-lo era de um pai que realmente ama muito seu filho, tanto que ele volta ao meu ouvido até hoje sem qualquer dificuldade.

o primeiro fato que viria a mudar minha vida aconteceu quando eu tinha apenas 2 anos e meio de idade. minha mãe estava na cozinha comigo, preparando uma sopa para mim. estávamos sozinhos em casa. ela foi ao quarto buscar um pano para que pudesse me tratar a comida e, enquanto isso, eu baixei a tampa do forno e me sentei nela. sabe como é, quando o cansaço bate não tem hora nem lugar (rs). conseqüência: o fogão virou com meu pouco peso e a sopa foi despejada sobre meu corpo. minha mãe entrou em desespero e alguém conseguiu uma carona para me levar ao hospital, eu não sei bem ao certo. mas disseram que durante todo o trajeto eu fiquei num silêncio sublime, uma espécie de estado de choque - ou de transe.

a sopa fervente não alcançou meu rosto, mas marcou mais de 60% do meu couro cabeludo de forma permanente: o cabelo na área atingida não voltaria a crescer. algumas marcas no braço direito também podiam ser vistas, mas conforme fui crescendo, elas se tornaram menos nítidas com o esticamento natural da pele. o trauma de não ter cabelo foi resolvido com bonés, marca registrada até hoje da minha pessoa (rs). okay, confesso que não foi fácil saber lidar com isso e às vezes eu me sentia um e.t., mas na maioria das vezes parecia até que o boné já era parte integrante do meu corpo. nesses 22 anos, contabilizam-se apenas duas aparições em público sem boné: aos 5 anos, no aniversário de 15 anos da minha irmã roseane e uma por volta dos 14, quando pivetes roubaram meu boné no centro da cidade. nessa 2º vez o capuz do casaco foi de utilidade ímpar.

quando eu tinha 6 anos, eu fiz a primeira operação de recuperação do couro cabeludo na santa casa de misericórdia do rio de janeiro, um tratamento complicado de explicar, mas eu tentarei: os médicos introduziram um aparelho chamado expansor por baixo da pele que ainda havia cabelo e não fora atingida pela queimadura. em seguida, atráves de um válvula, eles começam a infiltrar soro para dentro dessa bolsa de silicone e, com isso, esticam a pele, proporcionando a elasticidade devida para depois puxá-la para a parte queimada e tapá-la com cabelo. entendeu? aposto que não (rs). mas god bless o google \o/: na foto a seguir, uma explicação muito melhor que a minha sobre o expansor (rs):


obviamente não foi possível tapar toda a área queimada com apenas uma operação, mas o resultado já havia sido muito satisfatório. o ano seguinte deveria ser gasto com a 2º etapa da operação, mas minha família foi pega de súbito por mais uma tragédia: a morte da minha irmã num acidente de carro.

eu confesso que não tenho muitas lembranças desse período porque eu era muito pequeno. eu não lembro dos meus sentimentos, de como isso me afetou ou como afetou minha família. tenho lembranças de dias cinzentos na casa da minha madrinha, porque quiseram me manter afastado de tudo aquilo. lembro do carro do meu padrinho parado em frente ao cemitério e minha decisão de não querer entrar. lembro de particularidades, mas não lembro do todo; apenas suponho, como se não tivesse vivido o período nublado que se seguiu durante aquele(s) ano(s).

nessa época eu já estava na escola. depois do pré-escolar no ienf, passei os próximos 5 anos escolares no hermínia dos santos silva e de lá também vieram meus primeiros melhores amigos: léo e ritiele. o engraçado é que sempre fomos vizinhos, mas só passamos a ter contato depois que passei a estudar com o léo. e desde então foi difícil me tirar de dentro da casa dele (rs). eu só ia pra casa comer, tomar banho e dormir; o resto do dia era todo gasto lá com brincadeiras e jogos diversos e criativos, a maioria inventados por mim. quando as brincadeiras de casa tornaram-se monótonas vieram as brincadeiras de rua e aí entram filipe, marcinho e diego, que ainda estão na minha vida até hoje. léo e riti se mudaram, dando espaço pra filipe se tornar meu novo melhor amigo, mesmo que de vez em quando brigássemos e a mãe dele viesse se envolver (rs). período maravilhoso de brincadeiras na rua: pique-esconde, queimada, peteca com a josy (rs), resident evil, filmes e por aí vai.

contudo, a simplicidade da infância foi aos poucos se evaporando, dando espaço às complicações da adolescência, como veremos em breve.

to be continued...

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